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continuação de <PAC – Verdade ou realidade – o conteúdo da fé>
Como visto no artigo anterior, existe uma realidade espiritual referida na escritura que só pode ser acessada por meio da fé. Esta fé não é uma mera crença que pode ser descolada da realidade, como entende o mundo e a religião. No artigo anterior foi detalhada a definição de fé dada pela escritura, a qual é: a fé é a certeza (ὑπόστασις – hupostasis = substância) de coisas que se esperam, a convicção (ἔλεγχος – elegchos = evidencia ou prova) de fatos que se não vêem (Hebreus 11:1-3). Portanto a fé segundo as escrituras tem convicção e provas da realidade espiritual, celestial. Desta realidade o nascido de novo1 já tem experiência2, demonstrando alegria indizível em Quem ainda não viram fisicamente, atingindo assim o objetivo da fé3.
Uma figura da experiência de fé acessando o Cristo todo inclusivo como toda a esfera espiritual do reino celestial é apresentada no relato da entrada na boa terra de Canaã prometida por Deus a Israel4. Esta boa terra é um tipo ou figura do Cristo todo inclusivo que Deus dá ao Seu povo. O lugar de descanso prometido5. O povo tinha experimentado extensivamente do cuidado de Deus desde a libertação do Egito6. Tinham inclusive comprovado que a terra prometida era boa, como Deus havia dito7. No entanto não conseguiram crer que Deus lhes entregaria os gigantes que dominavam aquela terra, a despeito de terem testemunhado todo o poder e proezas de Deus8.
Esta ilustração é maravilhosa, pois demonstra uma fé que vem de uma confiança por já haver testemunhado as maravilhas de Deus9. Não é uma mera crença em uma promessa saída de um imaginário humano. Quem fez a promessa realizou proezas e prodígios que foram testemunhados pelo Seu povo. De fato, depois de haverem espiado a terra, tiveram uma amostra de sua riqueza e comprovado a veracidade sobre a riqueza da terra prometida. Mas infelizmente não conheciam os caminhos de Deus apenas presenciaram os feitos de Deus, o que não lhes aproveitou em nada.
Trazendo esta figura para a Nova Aliança, a experiência que nos dá a confiança não é mais uma libertação física da opressão do mundo, mas o novo nascimento10 e o inscrever das leis de Deus em nossos corações11. Este trecho resume bem a experiência:
2Corintios 4:6 > Porque Deus, que disse: Das trevas resplandecerá a luz, ele mesmo resplandeceu em nosso coração, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Cristo.
Por causa desta experiência, não apenas aceitamos, mas compreendemos que o universo formado pela palavra de Deus (Hebreus 11:3). A consequência se segue:
2Corintios 5:16,17 > Assim que, nós, daqui por diante, a ninguém conhecemos segundo a carne; e, se antes conhecemos Cristo segundo a carne, já agora não o conhecemos deste modo. E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas.
É a experiência de retirada do véu da velha mentalidade12. Já não conhecemos mais Cristo segundo a carne (ou como o mundo e a religião). Este Cristo que nasceu em nossos corações é a semente de fé que precisamos para avançar no CAMINHO. Nós cremos com a fé Dele em nós13. Deste modo provamos que o Seu falar é nosso alimento e supre e sustenta o nosso homem interior14. Por isto, para estes que tem esta experiência, o crer na palavra de Deus decorre justamente de terem provado que Deus é bom15 e conhecido Ele e Sua fidelidade16, e agora tem uma viva esperança em Suas promessas17. Este é o crer conforme as escrituras (João 7:38).
Evidentemente que é importante que saibamos das evidencias e provas de que a Bíblia é inspirada por Deus18, pois isto atrai a nossa atenção de forma mais séria para a escritura. No entanto, a nossa fé deve vir do testemunho Dele em nós, e não de nós mesmos. É algo totalmente diferente do que o mundo e a religião consideram como crer ou ter fé, que na verdade não passa de uma obsessão por uma ideologia religiosa ou até política. Tiago adverte sobre este tipo de “fé”, indicando que até mesmo os demônios crêem desta forma e até tremem19, coisa que infelizmente a maioria dos que se dizem crentes carecem de temor. Um caso registrado em Atos 19 é um alerta para a crença que não é conforme a escritura. Uns exorcistas tentaram expulsar demônios em nome de Jesus a quem Paulo pregava, e foram humilhados e envergonhados20. É um alerta para quem se conforma com mera crença e acaba “crendo” com a fé de outros, de quem ouviu testemunho.
O risco sutil é crer na Bíblia como um conjunto de dogmas e não crer conforme as escrituras21. Ai aparentemente teria a fé, porém não o poder que decorre da vida divina compartilhada em nosso homem interior22. A conseqüência é ter aparência de piedade, mas não ter o poder interior da vida divina, que é capaz de nos conduzir no CAMINHO em uma vida piedosa23, nos salvando da corrupção da carne e do mundo24. Esta é a razão porque é tão comum encontrar pessoas que professam crer em Deus e em Jesus, citando até trechos das escrituras, mas que não tem um viver santo que testifica sobre o caráter de nosso pai celestial, que é santo, justo e fiel. É a situação exposta em Tiago 2:14-26. Ou seja de uma crença sem a atitude, como a já citada pelo exemplo da mulher samaritana em João 4:1525 ou o Zaqueu em Lucas 19:8,926. No próximo artigo se tratará da questão da consciência.
Retomando a figura da promessa da boa terra aos israelitas, da mesma forma como a primeira geração que acabou não crendo que Deus lhe entregaria a boa terra apesar de haver testemunhado as maravilhas e a libertação de Deus, na Nova Aliança também tem os descaíram da fé. Na velha Aliança havia a intervenção de Deus desde a separação de Abraão das nações, que se tornou a história da nação de Israel. Na Nova Aliança já a história de Deus com o Seu povo é espiritual e interior. Não visível materialmente. Por isto o alerta em Hebreus 6:4-827.
É interessante observar que no Velho Testamento a fé só é citada na profecia de Habacuque 2:4 “o justo viverá pela sua fé”. Depois só é mencionada no Novo Testamento. Isto confere com:
Gálatas 3:24,25 > De maneira que a lei nos serviu de aio para nos conduzir a Cristo, a fim de que fôssemos justificados por fé. Mas, tendo vindo a fé, já não permanecemos subordinados ao aio.
Ou seja, a lei tutelou o povo de Deus até a vinda de Cristo, ensinando ao povo sobre os valores, o amor, a santidade, a justiça e princípios de conduta de Deus. Quando veio Cristo, já não há mais necessidade do tutor ou aio, pois agora se pode conhecer nesta pessoa maravilhosa todos estes atributos testificados pela lei. O que confere com
Hebreus 12:2 > olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus, …..
Alguém poderia questionar, se esta Fé que fala na escritura só veio com Jesus, como explica o próprio relato no capítulo 11 de Hebreus de lista de testemunhas de experiências de fé desde Abel? O trecho de 1 Pedro 1:10-1228 nos esclarece que o Espirito de Cristo já lhes revelava sobre a tão grande salvação de Deus, revelando que, não para si mesmos, mas para nós hoje, ministravam estas coisas. Não se pode esquecer que Cristo é eterno, sem principio e nem fim. Está fora do tempo. O tempo é restrição da criação. Assim, apesar de se manifestar apenas há cerca de 2 mil anos atrás, não estava impedido de atuar antes como Autor da fé. O ponto comum de todas as testemunhas da fé em Hebreus 11 é que todos tiveram relacionamento inicial com Cristo em Deus.
Recomenda-se continuar em <PAE – O mistério da Fé e a Economia divina>
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